Da minha infância/pré-adolescência, tenho boas recordações. E conhecer esse anime (que, como muitos outros, surgiu dos mangás japoneses) foi um divisor de águas. Me lembro como se fosse hoje, quando meu primo me perguntou se eu já tinha visto Cavaleiros do Zodíaco! Eu dei de ombros. Não botei fé, pra mim seria mais uma distração boba. Mas ele me disse que não era filme, era desenho. Bom, como éramos crianças à época, talvez seria legal ver…
E como foi legal!!
Depois de algum tempo fomos até no cinema assistir quando foi lançado o filme!
Com o título original Saint Seya, o anime conta a história de cinco jovens guerreiros cuja função é proteger Saori Kido, a reencarnação de Atena, deusa grega da sabedoria e justiça.
O que mais atraiu minha atenção nesse anime não foi apenas a distração que proporcionava, com extensas lutas, sempre recheadas com diálogos desafiadores (que, convenhamos, chegavam a ser repetitivos e entediantes), mas principalmente as características “adultas” das temáticas envolvidas.
Sim! Desde ideias de astrologia a mitologia grega, passando por personalidades com intensas características psicológicas, até os conceitos complexos de cosmo e sétimo sentido, este desenho trabalha muitas questões importantes como a amizade, lealdade, persistência, entre outros.
Questões profundas
Aliado a tudo isso é muito interessante também ver o crescimento e amadurecimento dos personagens, sendo trabalhados aos poucos, com os conflitos internos e descobertas chocantes, sempre em meio às batalhas, fazendo com que os maiores desafios que os heróis enfrentam ocorram no campo psíquico, envolvendo seus sentimentos e valores.
Não é à toa que o anime continua sendo admirado por muitos adultos hoje, que, como eu na época, estavam apenas descobrindo o mundo. Revendo a obra, tal qual se faz numa segunda leitura de um livro, você encontra novas referências que não tinha visto anteriormente, que, aliás, são dignas de respeito.
Ao buscar estudos atuais ligando psicologia, arquétipos e mitologia, podemos perceber as referências hoje muito em voga como os conceitos da jornada do herói, de Joseph Campbell ou a Psicologia Jugniana, e assim encontrar grande valor dessa obra, originalmente escrita por Massami Kurumada.
Lutar em nome de um ideal nobre, ideal esse maior até que sua própria vida, ou seja, lutar pela justiça, pela amizade e pelo amor, é uma constante lembrada nos episódios. As dificuldades enfrentadas pelos heróis são contornadas muitas vezes relembrando dos ensinamentos de seus mestres, que por mais doloridas que sejam, trazem um aprendizado e uma maior motivação para continuar uma luta praticamente perdida.
E o valor da persistência e o sacrifício envolvido em cada situação já nos mostra que não importa o quanto seja difícil o caminho, sempre vai valer a pena levantar-se, independente de quantas vezes você cai ou é golpeado (ou as duas coisas juntas).
Você teria coragem de se cegar, para não virar pedra?
Você daria todo o calor do seu corpo para reviver um amigo?
Você conseguiria deixar o passado afundar no oceano para superar sua fraqueza?
Pois é! São inúmeros os exemplos de questões que os personagens enfrentam, sempre procurando fazer a melhor escolha. Por mais dura que seja.
Prós e Contras
Claro que a história não é perfeita (e nem deveria ser). Como já dito antes, muitos diálogos são repetitivos, cansativos, e às vezes até ingênuos. O humor é um pouco raro, e colocado em momentos desconectados com o ritmo da história. Ou seja, não consegue dar um equilíbrio à seriedade do tema, que é constantemente explorado.
Algumas cenas foram censuradas nas emissoras de TV aberta.
Mas, diante da grandeza da obra como um todo os defeitos parecem ter pouca importância.
Pontos positivos:
- Temática com assuntos profundos e adultos
- Explora conceitos mitológicos e psicológicos
- História bem roteirizada, ligando passado, presente e futuro
- Heróis com fraquezas humanas
- Explora a formação e amadurecimento dos personagens
Pontos negativos:
- Algumas vezes peca por excesso de violência e cenas sanguinárias e cruéis
- Ritmo lento da história em si
- Idades dos protagonistas absurda (por volta de 13 anos!)
- Batalhas que nunca terminam
- Diálogos excessivos antes e durante as lutas
Enfim, apesar de tudo, Cavaleiros do Zodíaco tem muito a contribuir para aprendizados humanos e garanto que vale a pena ver com esse olhar mais profundo!
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2 respostas
Interessante sua abordagem acerca de um desenho. Acredito que até mesmo alguns fãs não perceberam tantos detalhes em Cavaleiros do Zodíaco!
Parabéns pelo discurso. Admiro as percepções de prós e contras também! Beijos.
Obrigado pelo comentário, Estela!
Esse desenho tem muitos detalhes que só se percebemos com o tempo mesmo.